Eu queria calar tudo que já disse
e reescrever a única voz
que ainda faz sentido
A palavra que me inquieta
que chama a madrugada
e a me dá de presente
como um grito
Incontido
O som limpo de uma voz apaixonada
que quando me pronuncia me descobre
e eu passo a ser mar à vista e terra e eu e tudo
do nada
Eu só me reconheço
quando ela sussurra em meu ouvido
seu hálito cor de laranja
e lambe
o que fui ferido
dos meus pesadelos
É quando me torno seu hábito
na noite negra da vida
atado aos seus pelos
pela mesma ferida
É urgente, pois, que eu não partisse
antes de sua voz ressoar
todos os poemas
que eu ainda não disse.